terça-feira, 6 de novembro de 2012

Telmo Padilha, um poeta silenciado na Bahia

Somente a poesia – entendida no seu mais alto sentido – será capaz de salvar o homem. Se todos os homens fossem poetas ou lessem poesia, o mundo – asseguro-lhe – seria bem melhor. 
Telmo Padilha 


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Filho de Miguel Alves Padilha e Olga Martins Fontes, Telmo Fontes Padilha nasceu em 5 de maio de 1930 na vila de Ferradas (onde também nasceu o romancista Jorge Amado 1912-2001), no município de Itabuna (BA). Descendente, pelo lado paterno, de uma família de educadores e políticos sergipanos e pelo lado materno do poeta Hermes Fontes (1888-1930) e do romancista amando Fontes (1899-1967). Seus pais se estabeleceram no sul da Bahia como a maioria dos sergipanos, atraídos pelas notícias das terras férteis para o cultivo do cacau. Em Ferradas o jovem Telmo aprende as primeiras letras, mas logo a família transfere-se para Itabuna onde conclui o primário. Em Salvador inicia-se o curso ginasial no Colégio Americano, depois denominado de 2 de Julho e retorna a Itabuna para concluir o ginásio no Colégio Divina Providência. 

Morando no Rio de Janeiro, trabalhou em vários jornais como repórter, copy desk, secretário de redação, chefe de reportagem e redator dos jornais culturais Para Todos e Jornal de Letras. Em 1957 publica seu primeiro livro Girassol do Espanto e, na década de 70, destaca-e ao conquistar o prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro (1975) com o livro Vôo Absoluto, projetando-se internacionalmente quando conquistou o Prêmio Internacional de Poesia de San Rocco, Itália. Devido a essa repercussão, o poeta publicou inúmeros livros, alguns traduzidos para vários idiomas. Em 1960 Telmo volta a Itabuna e dirige vários projetos de atividades culturais conhecido pela sigla PACCE, mantido por cinco instituições que atuam na área do cacau. Sendo responsável pela revelação para todo o Brasil da obra do poeta de Belmonte Sosígenes Costa, publicando os livros Pavão Parlenda Paraíso, estudo de José Paulo Paes sobre Sosígenes (1977) e Iararana (1979). Telmo Padilha contribui também para a fundação da Faculdade de Direito de Ilhéus, matriz do que é hoje a Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC., onde trabalhou como assessor cultural, cedido pela Ceplac, na qual ingressou por concurso em 1970. 

Encontro 

Conheci o Telmo num fim de tarde na Academia de Letras da Bahia, apresentado por Hélio Pólvora em março de 1994, dias depois de ter tomado posse na cadeira 29, cujo patrono é Agrário de Souza Menezes. Dele tinha lido somente Noite contra noite (1980), portanto estava desprovido para discutir sobre sua poesia, mas entretivemos uma boa conversa. Achei-o muito parecido com meu pai, calado, observador, estranho ao ambiente, usava um óculo Ray ban esverdeado, circulava pelo salão conversando com alguns acadêmicos, principalmente com Claudio Veiga presidente da casa. A partir desse encontro, passei a prestar mais atenção à sua poesia, muito embora tivesse dificuldades para encontrar alguns dos seus livros. 

Comecei a procurar sua obra em livrarias e sebos de Salvador, tarefa quase inútil. Fui encontrar no Sebo Graúna anos depois um exemplar já bastante gasto pelo tempo, o livro Vôo Absoluto (1977), com estudo crítico de Gilberto Mendonça Telles e já residindo em Aracaju encontrei no sebo Coquetel da Cultural seu livro de estréia, Girassol do Espanto (1956), com estudo crítico de Adonias Filho. 

Sobre Vôo Absoluto a professora Angélica Soares da UFRJ, inicia a sua resenha: “A leitura desse novo livro de poemas de Telmo Padilha exige, sobretudo, que o leitor procure viver, como o poeta a experiência do vôo absoluto, que é a própria condição de fazer e de apreender o poético, no seu estruturar-se livre, ambíguo e iluminado. Isso porque a verdade de seus versos, enquanto Poesia ultrapassa o território reduzido da língua para habitar o espaço infinito da paisagem do humano. O que nos reclama uma re-flexão que seja um mergulho contínuo na obra, através de um con-viver e de um con-fundir ao mesmo tempo iluminadores dela e iluminados por ela.”[1]

Fortuna Crítica 

Não consigo entender como um autor do peso de Telmo Padilha, com uma fortuna crítica invejável, uma das mais significativas de que se tem conhecimento em nossa atual literatura, continue esquecido da crítica atual. Nenhum grande nome de nossas letras deixou de dedicar-lhes pelo menos algumas linhas de respeitosa admiração. Basta dar uma ligeira olhada nas abas dos seus livros, para constatar uma pequena parte da fortuna crítica, que inclui opiniões, entre outros, de Tristão de Athaide, Eduardo Portela, Antônio Houaiss, Otto Maria Carpeaux, Fábio Lucas, Fausto Cunha, Assis Brasil, Afrânio Coutinho, Ledo Ivo, Rachel de Queiroz, Érico Veríssimo, Otávio de Faria, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Adonias Filho, Hélio Pólvora, Mario da Silva Brito, José Paulo Paes, Antônio Carlos Villaça, Ivan Cavalcante Proença, Paulo Rónai, Oscar Mendes, Sérgio Milliet, Britto Broca, Edgard Cavalheiro, Agripino Grieco, Vinicius de Moraes, Alphonsus Guimarães Filho, Mauro Motta, Antonio Olinto, Augusto Schmidt, Henriqueta Lisboa, Moacy Félix, Walmir Ayala, Domingos Carvalho da Silva, Afonso Félix de Souza, Stella Leonardo, Dirceu Quintanilha, Josué Montello, Nélida Piñon, Salim Miguel, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, João Cabral de Mello Neto, Carlos Nejar, Affonso Romano de Sant’Ana e Carlos Drummond de Andrade: 

“Uma poética severa, com acentos, ás vezes, de reflexão profunda, e hábil manejo de ritmos, refrãos. No plano emocional, Padilha tende a desenvolver um tom elegíaco e nostálgico, um tanto raro em seus confrades mais recentes. Em relação a estes, todavia, tem ago de mais raro: escreve bem e parece não ter medo das belezas conquistadas pela língua.” 

Mauro Gama 

”Em Temo Padilha a poesia se faz sentir e amar pela concentração e o poder de toque.” (...) “Um poeta feito, senhor do seu ofício” (...) “Sua poesia tem direito a autonomia de vôo, e a nós cabe a satisfação de fluí-la em sua riqueza plena.” 

Carlos Drummond de Andrade 

“... poesia depurada por um filtro poético em pleno estado de levitação, tão alada, tão pura, tão essencial.” (...) “Uma inspiração poética que transcende toda a vegetalidade dessa terra baiana” (...) “tão rica de humus vegetal que se depura ao extremo na sua poesia.” 

Tristão de Athayde 

Assim é o poeta Telmo Padilha, construiu sua obra plenamente em poemas curtos, numa linguagem concisa e desprovida de excessos de originalidade, para explodir de emoção e lirismo na busca de atingir o absoluto vôo. 

Obra Poética 

Em 1978, Telmo Padilha reúne poemas de oito livros anteriormente publicados e deu o título de Poesia Encontrada, que mereceu de um dos seus melhores críticos, o professor de literatura brasileira, Jorge de Souza Araújo a seguinte afirmação: “Há duas matrizes ocultas no inventário de motivos com que se tece essa poesia de Telmo Padilha. A primeira delas – pássaros – está inscrita na quase totalidade dos seus poemas , sob nuances de vida e liberdade os mais diversos. A outra matriz – a Morte – toma também os mais diferentes trajes e formas, encastoada na língua humana do poeta com um El sagrado, de que nunca se pode apartar.”[2]

Telmo colaborou com artigos de crítica em suplementos e revistas de cultura, além de ser correspondente de duas revistas estrangeiras. No sul da Bahia, onde foi correspondente de jornais do Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte. Fundou e dirigiu a Rádio Jornal de Itabuna – da qual foi diretor-superintendente -, a Tribuna do Cacau, A Hora, Tribuna Regional. Discípulo do jornalista Otávio Moura, no velho Diário da Tarde (Ilhéus), depois de ter passado pela Voz de Itabuna, onde trabalhou com Hélio Pólvora. Em 1985, transfere-se para Brasília e assumi a Coordenadoria de Comunicação Social e Subchefia de Gabinete da Secretaria Geral da Ceplac. Da capital federal escreve dois artigos semanais para o jornal A Tarde, sobre assuntos gerais. Casado com a advogada Ecy Aragão Padilha tiveram cinco filhos: Claudia, Luisa, Clara, Fernanda e Paulo. Telmo Padilha morreu de acidente automobilístico na estrada entre Itabuna e Macuco, em 16 de julho de 1997, aos sessenta e sete anos, deixando mais de uma dezena de livros publicados, dezesseis deles traduzidos para diversos idiomas, alemão, francês, espanhol, italiano e inglês, está a merecer a reunião de toda a sua obra poética publicada e inédita num único volume de poesias completas, para uma melhor avaliação de sua contribuição ao processo poético brasileiro. 

Espaço Cultural 

Em dezembro de 2001 a Vila de Ferradas, palco de conflitos pela conquista da terra cacaueira, onde residia o célebre jagunço Antônio Ferreira, agregado nos anos 20 às forças do coronel Henrique Alves Reis (1861-1942), ganhou uma casa para a cultura e cidadania: Espaço Alternativo Telmo Padilha, que funciona numa casa antiga, na praça principal. O espaço foi criado pela Diretora de Cultura de Itabuna, em homenagem ao escritor e jornalista ferradense Telmo Padilha. Segundo a diretora na época, professora Ritinha Dantas, o Espaço Alternativo era uma antiga aspiração da comunidade e deverá ser utilizado para a realização de palestras, exposições, oficinas de artes e cursos profissionalizantes. “A criação desse espaço visa, dentre outros objetivos, a resgatar a cultura regional e ao mesmo tempo oferecer um local onde será possível o desenvolvimento de atividades diversas voltadas para o lazer cultural e o conhecimento, oferecendo inclusive cursos gratuitos.”[3] O Espaço Alternativo abriga um acervo completa das obras, incluindo trabalho inéditos, de Telmo Padilha e de Jorge Amado, ambos nascidos em Ferradas. Presente à inauguração esteve a advogada Clara Padilha, filha do poeta que revelou que seu pai amava a Vila de Ferradas e relembrou que ele ia lá sempre conversar com os amigos e passear pela beira do rio Cachoeira. “Aqui ele buscava inspiração para escrever suas poesias. Parece que ele saía mais fortalecido e animado. Aqui ele escreveu O Rio, um dos títulos de seus livros.”[4]

[1] Vôo Absoluto, Angélica Soares. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, nº56, jan/mar, 1979. 
[2] Poesia Encontrada, Jorge de Souza Araújo. Rio de Janeiro, Tempo Brasileira, nº59, out/dez, 1979. 
[3] Poeta Telmo Padilha é lembrado em Ferradas. Salvador, A Tarde Cultural, 29 de dezembro, 2001. 
[4] Poeta Telmo Padilha é lembrado em Ferradas. Salvador, A Tarde Cultural, 29 de dezembro, 2001.

GILFRANCICO: 
jornalista, professor universitário, diretor de imprensa da Associação Sergipana de Imprensa, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia 
gilfrancisco.santos@gmail.com 

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